Na mesma data elas nasceram
Em choros e gritos a existência, saudaram
Qual irmãs, sempre unidas, assim cresceram
Universos paralelos, seus destinos mesclaram
A pálida loirinha, calma aberta, mente selada
Indecisa, temerosa a romper seu ninho
A cálida moreninha, alma aberta, mente aguçada
Decidida, audaciosa a tecer o seu caminho
Inseparáveis na tristeza ou na alegria
Brincando ou brigando, rindo ou chorando
Temperamentos opostos convivendo em harmonia
A insegura dependente e a eminente no comando
Trocando brinquedos, ideias, segredos
Entre elas, sinceras, nada escondendo
Sentimento e razão moldando enredos
Em devaneio-fantasia, ambas vivendo
Ei-las mocinhas, verso e reverso, sinas cruzadas
Ser bailarina famosa, enseja a morena,ser amada, apenas, deseja a serena
No jogo da vida, sorte inserida, cartas trocadas
O sonho de uma faz-se na outra... realidade plena
A cálida almeja a fama
Mas é da pálida o estrelato
Nessa, o coração arde em chama
Mas é daquela o amor do candidato
No reino das sapatilhas a loira é soberana
No reino da beleza a morena é alteza
A primeira bailando dissolve timidez... é deusa em forma humana
A segunda encantando envolve altivez... é feitiço em molde princesa
E as duas choram em frustração
Dupla face, inveja mútua, seus lugares trocariam
A loira, pelo beijo do amado, morte-vida... ressurreição
A morena, pela vitória na ribalta que a glória exalta, ….suas lágrimas secariam
Noite de gala, ensaio final
Luzes, sons, brilhos e cores
Nos corredores, euforia geral
Em clima de festa, vibra energia nos bastidores
No camarim, isoladas, duas jovens em meditação
Na tela da mente, imagens a desfilar, lembranças a congelar
E rompendo verdades, rasgando vaidades, surge a resolução
Abdicar...trocar...renunciar...esperanças ofertar
A loira, à expressão da arte anula devoção
De bailarina-primeira, despe o manto
Na dança finda história cedendo à decisão
Chance à morena,a segunda,no palco, dos aplausos, saborear encanto
E ela, a vice, entre flores-homenagem do fiel apaixonado
Da adoração desfia o laço, da dedicatória desafia o traço
Trocando nomes remete â outra, o ramalhete recusado
Chance àquela, na sedução da flor, ilusão-ardor, do eleito, sentir abraço
Integradas ao turbilhão do momento
Por inversas direções em adágio sorrateiro
Saem de cena rescindindo evento
Pensando cada uma fazer à outra o benefício derradeiro
Inútil ou louvável, dos planos o resultado a causar decepção
Lastima o jovem enamorado a perda da morena formosa
No corpo de baile, incerteza-sensação comove plateia em suprema comoção
Foi-se a diva loira; ...apagou-se a estrela auspiciosa
Artifício.... sacrifício.... dosagem certa a mensurar
De musas-personagens rasgadas as roupagens
Solidárias, solitárias em novos rumos a trilhar
Difusas qual miragens, esfumaçadas as imagens
Na linha do tempo, aparente inimigas
….não mais se encontraram
Em pensamento, para sempre amigas
….jamais se separaram
Autora: Sheila Maria
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